quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ressaca

Quando recebi um email com esse texto, há uns 10 anos atrás, eu não sabia o que era ressaca.
Agora faz todo sentido!!! ahahahahahaha

SOMENTE QUEM FOI BOÊMIO ENTENDERÁ A MAGNITUDE...........

Hoje, existem pílulas milagrosas, mas eu ainda sou do tempo das grandes ressacas. As bebedeiras de antigamente eram mais dignas, porque você as tomava sabendo que no dia seguinte estaria no inferno. Além de saúde era preciso coragem.

As novas gerações não conhecem ressaca, o que talvez explique a falência dos velhos valores. A ressaca era a prova de que a retribuição divina existe e que nenhum prazer ficaria sem castigo. Cada porre era um desafio ao céu e as suas fúrias. E elas vinham: Náusea, Azia, Dor de Cabeça, Dúvidas Existenciais, golfadas.

Hoje, as bebedeiras não tem a mesma grandeza. São inconseqüentes, literalmente. Não é que eu fosse um bêbado, mas me lembro de todos os sábados de minha adolescência como uma luta desigual entre a cuba-libre e o meu instinto de auto preservação. A cuba-libre ganhava sempre.

Já dos domingos me lembro muito pouco, salvo a tontura e o desejo de morte. Jurava que nunca mais ia beber, mas, antes dos trinta, "nunca mais" dura pouco. Ou então o próximo sábado custava tanto a chegar que parecia mesmo uma eternidade. Não sei o que a cuba-libre fez com meu organismo, mas até hoje quando vejo uma garrafa de rum os dedos do meu pé encolhem.

Tentava-se de tudo para evitar a ressaca. Eu preferia um Alka-Seltzer e duas aspirinas antes de dormir. Mas no estado em que chegava, nem sempre conseguia completar a operação. As vezes dissolvia as aspirinas num copo de água, engolia o Alka-Seltzer e ia borbulhando para a cama, quando encontrava a cama. Mas os métodos variavam.

Por exemplo:
· Um cálice de azeite antes de começar a beber - O estômago se revoltava, você ficava doente e desistia de beber.

· Tomar um copo de água entre cada copo de bebida - O difícil era manter a regularidade. A certa altura, você começava a misturar a água com a bebida,e em proporções cada vez menores. Depois, passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida.

· Suco de tomate, limão, molho inglês, sal e pimenta ? Para ser tomado no dia seguinte, de jejum. Adicionando vodka ficava um bloody-mary, mas isto era para mais tarde um pouco.

· Sumo de uma batata, sementes de girassol e folhas de gelatina verde dissolvidas em querosene - Misturava-se tudo num prato pires forrado com velhos cartões do sabonete Eucalol. Embebia-se um algodão na testa e deitava-se com os pés na direção da ilha de Páscoa. Ficava-se imóvel durante três dias, no fim dos quais o tempo já teria curado a ressaca de qualquer maneira.

· Uma cerveja bem gelada na hora de acordar - Por alguma razão o método mais popular.

· Canja - Acreditava-se que uma boa canja de galinha de madrugada resolveria qualquer problema. Era preciso especificar que a canja era para tomar, no entanto. Muitos mergulhavam o rosto no prato e tinham de ser socorridos as pressas antes do afogamento.


Minha experiência maior era com a cuba-libre, mas conheço outros tipos de ressaca, pelo menos de ouvir falar:
· Você sabia que o uísque escocês que tomara na noite anterior era Paraguaio quando acordava se sentindo como uma harpa guarani. Quando a bebedeira com uísque falsificado era muito grande, você acordava se sentindo como uma harpa guarani e no depósito de instrumentos da boate Catito's em Assunção.

· A pior ressaca era de gim. Na manhã seguinte, você não conseguia abrir os dois olhos ao mesmo tempo. Abria um e quando abria o outro, o primeiro se fechava. Ficava com o ouvido tão aguçado que ouvia ate os sinos da catedral de São Pedro, em Roma.

· Ressaca de martini doce (essa foi a minha primeira): você ia se levantar da cama e escorria para o chão como óleo. Pior e que você chamava a sua mãe, ela entrava correndo no quarto, escorregava em você e deslocava a bacia.

· Ressaca de vinho (essa eu já perdi as contas). Pior era a sede. Você se arrastava ate a cozinha tentava alcançar a garrafa de água e puxava todo o conteúdo a geladeira em cima de você. Era descoberto na manhã seguinte imobilizado por hortigranjeiros e laticínios e mastigando um chuchu para alcançar a umidade. Era deserdado na hora.

· Ressaca de cachaça (essa então, é melhor eu nem comentar). Você acordava sem saber como, de pé num canto do quarto. Levava meia hora para chegar até a cama porque se esquecera como se caminhava: era pé ante pé ou mão ante mão? Quando conseguia se deitar, tinha a sensação que deixara as duas orelhas e uma clavícula no canto. Olhava para cima e via que aquela mancha com uma forma vagamente humana no teto que finalmente se definira: era o Peter Pan e estava piscando para você.

· Ressaca de licor de ovos. Um dos poucos casos em que a lei brasileira permite a eutanásia.

· Ressaca de conhaque. Você acordava lúcido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do universo. A chave de tudo estava no seu cérebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos estavam tentando arrombar a sua caixa craniana. Você sabia que era alucinação, mas por via das dúvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro.


Hoje não existe mais isto. As pessoas bebem, bebem e não acontece nada. No dia seguinte estão saudáveis bem-dispostas e fazem até piadas a respeito. De vez em quando alguns dos nossos se encontram e se saúdam em silêncio. Somos como veteranos de velhas guerras lembrando os companheiros caídos e o nosso heroísmo anônimo. Estivemos no inferno e voltamos, inteiros. Um brinde.

Luís Fernando Veríssimo

domingo, 29 de março de 2009

Pobre tem que ser otimista!

Já parou pra pensar que vc pode estar no caminho errado?

Eu penso nisso direto... e tenho muito medo disso. Pq recomeçar é preciso... mas dá uma preguiiiiiiiiiiiiça..... Se eu tiver que escolher outra carreira, por exemplo, não faço a menor idéia do que pode ser. Mas, ainda nessa carreira e nessa vida, muita, muita, mas muuuuuuuuuita coisa tem que mudar.

Começando pelo que eu sou, o que eu deveria ser e o que eu não sou e não deveria ser.

A essas alturas do campeonato, eu esperava ser BEM SUCEDIDA. Todas aquelas coisas de prache: mãe, esposa, estrela... Mais centrada, mais calma, menos vícios, mais saúde, mais feliz.

E o jeito de fazer tudo isso era claro: muita coragem, determinação e muito coração!

Me deparei com situações que não gostaria de ter vivido. Essas coisas me fizeram mais forte, mais corajosa. E de coração vazio. As "desgraças" não me surpreendem, as conquistas não me satisfazem... Ganhei coragem... e perdi meu coração pelo caminho.

A fé abala mas não acaba. Pq a estrada não tá nem na metade. Tenho pensado muito em MERECIMENTO nesses últimos dias. Talvez eu ainda não tenha feito o que deveria, não me esforcei o suficiente, não batalhei o suficiente, não tenho o corpo suficiente nem a expressão suficiente. Tô me apegando à certeza de que ser uma PESSOA DO BEM um dia vai compensar, como um bônus pra todo o resto!

Pq eu to começando a acreditar que coragem e determinação não dão conta sem o coração. A coragem de acordar e tentar fazer acontecer todos os dias e a determinação de continuar depois de tantos "nãos" ficam realmente abalados se o coração está vazio. E só esperança não basta pra preencher.

Esse vazio que eu ainda não entendi (e talvez nunca entenda) é ou resulta no que eu mais odeio:
eu me tornei uma pessoa morna. Sem graça. Apagada.

Cadê aquele monstro que existia aqui? Cadê aquele tal brilho? Cadê a paixão em cada coisa?
Cadê, eu, gente? Aquela eu que eu era ou aquela que eu nasci pra ser?

Tô procurando. Acho que estou perto.

Não tenho muitas certezas. Mas não tenho muitos problemas.
Não tenho muitos planos. Mas tenho grandes sonhos!!!

Como já diria minha sábia irmã, "pobre tem que ser otimista!". Então... vamos caminhando. Nem muito rápido nem muito lento, nem muito alto nem muito baixo, nem tanto ao céu nem tanto à Terra, nem oito nem oitenta, nem deprimida nem eufórica, nem gorda nem magra, nem gelada nem fervendo: morna, no melhor sentido. Rumo ao meio termo. Ao centro. Ao equilíbrio da balança. Á tal felicidade!!!




"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não,
creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
(Com licença poética - Adélia Prado)


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Eu quero é ser Oléria!!!!!!!!!!!




Ela chega no palco como quem não quer nada.


Quase tímida. Pega o violão, se posiciona na frente do microfone... e aí, colega, a casa cai!


É uma mistura de vigor, presença, energia, invasão, doçura, sorriso, certeza...


Quem já assistiu Ellen Oléria sabe do que eu estou falando.


Deixa qualquer um boquiaberto. Você pode até não gostar, mas o talento é incontestável.


Assim como é incontestável meu fascínio por essa criatura. Quem me conhece sabe como eu sou chata, exigente, cricri.


A Ellen me deixa muda. E sem respirar por vários segundos.





Quando ela canta Zumbi, eu quero ser preta como ela.


Quando ela canta Não lugar, eu quero ter sofrido como ela.

Quando ela canta Mandala, eu me arrepio.

Quando ela canta Natural Luz, eu choro.


Quando ela faz rap, eu quero morrer!!!


Quero ser "olheira" de alguma gravadora, alguma produtora musical pica-das-galáxias, só pra ter o gosto de apresentá-la pro mundo todo.





E penso sincera(e rápida)mente em parar de cantar.


Não porque me comparo, sei dos meus valores e das minhas limitações.


Mas porque me sinto plenamente representada ali naquela voz e naquele violão.


No swing, na história de luta, na desenvoltura no palco, na curtição de estar fazendo o que gosta.





E a mocinha tá só no começo da história. Como ela mesma diz, "tá ficando bom, mas vai ficar melhor"!!! E eu vou estar cantando junto, vendo a "poeira vermelha" levantar, engrossando o coro do "eu quero ver", gritando "Aleluia" até onde a garganta aguenta, sentindo o tal "basalto que emana" dos poros dela e sempre aprendendo com esse furacão de talento.





E eu só quero ver quando Ellen Oléria chegar!!!!!!!!